Vaca amarela
Cagou na tigela
Quem falar primeiro
Come toda a bosta dela
Viva o festival de mau-gosto e pedantismo espalhado pela cidade, marketing grosseiro travestido de modernidade cosmopolita, ex-votos de louvor a globalização da mediocridade, afinal as vacas também são sagradas na civilização ocidental, pois então que animal simbolizaria melhor, a devastação dos ecossistemas. É dito no interior que o boi tem cinco bocas, já que além dos 25 quilos de capim necessários para produzir 1 quilo de carne, o pisoteio de suas patas provoca a compactação dos solos, contribuindo consideravelmente para sua degradação. Mas muito mais trágico é o fato da pecuária ser a principal causa do desmatamento da Amazônia, mesmo o metano advindo da ruminação bovina responde por uma fração importante das emissões de gases de efeito estufa. Não se esqueçam que há tempos o rebanho bovino supera a população humana em nosso país, com mais de 200 milhões de bois e vacas para nutrir e matar a sede.
Podemos também destacar os efeitos deletérios do consumo excessivo de proteína animal na saúde humana, cujo ritual de iniciação se dá nos Mac Trouxas da vida, ou num podrão da esquina para os menos abastados, e alcança o seu nirvana numa churrascaria chique, o supra-sumo do nonsense alimentar. Até o cândido leite das dóceis vaquinhas não é tão puro e inofensivo como nossa vã filosofia supõe, ou seriam hábitos culturais seculares mantidos com zelo por uma poderosa indústria?!
Quem sabe seja melhor ficar calado mesmo, como manda o ingênuo divertimento infantil, que aliás não deve fazer muito sucesso nesses tempos de internet e vídeo game. Na ausência de brinquedos e educação, ou coisas mais simplórias feito um prato de comida, os meninos de rua da igualmente cultuada Lapa aproveitam o novo hóspede para embarcar em alguma longínqua fantasia de vaqueiro, fugir um pouco da dura realidade que tem cheiro de cola e mijo. Mas também, se as mesmas autoridades competentes em gastar 1 bilhão de reais na festa do esporte não conseguem manter um mínimo de limpeza, iluminação e segurança no novo eldorado turístico da cidade maravilha; o que esperar de uma sociedade que prefere alimentar os bois a cuidar um pouco melhor de suas crianças...