Poema dos Cinquent’anos de Miguel de Simoni
Thales Paradela
Thales Paradela
Desde sempre foi tosco.
Já na intempestiva gênese
em momento impróprio,
na contramão,
em dia de ponto facultativo,
durante uma greve dos anjos.
Por isso, Deus teve que abençoá-lo pessoalmente.
Límpido nunca o foi.
Embora transbordasse a pureza dos mananciais
Irrigados por palavras, tão doces e sábias, quanto turvas em vacilações, conquanto sempre potáveis.
Não é daquele que consideramos retos.
À margem das avenidas, propõe as trilhas
(a floresta que o diga)
na sinuosa rota das costelas, aquela que chega no coração.
Não detém a patente da verdade,
quiçá a égide da lógica inexpugnável.
Por vezes tonto, com a agulha da bússola bêbada, na busca do caminho dizendo:
- Eu não sei.
Achando os caminhos de olhos fechados e alma aberta, ou ainda, seguindo as estrelas
(o que vem a dar no mesmo!).
O rosto também não é de herói.
A auto-suficiência foi esquecida junto com alguns telefones e datas de aniversário.
Aliás, pose de herói não é o seu forte.
Se aproxima muito mais de macunaíma do que de Clark Kent.
Se bem que é preciso peito de remador,
fôlego de gato e
boa dose da sanidade dos hospícios
para ousar nadar rio acima
(salmão instintivo procriador)
contra a corrente avassaladora
que vai polindo as pedras pontiagudas e arrasta o limo.
Nota-se pois, tratar-se de um ser danoso.
Um absurdo!
Com muita dificuldade chegando a metade de um século.
Deixando Deus com os cabelos (e barbas) em pé, numa vigília constante.
(Sabemos que um filho que dá tanto trabalho só pode ser tanto amado!)
Enfim,
trata-se de uma pessoa que não serve para nada,
a não ser, fazer deste mundo um lugar mais bonito.
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